RSS

Neblina – Prólogo.

De minha autoria… (Atalia)

 

Sara vagava pela pequena cidade sem direção, suas lágrimas misturavam-se as gotas de chuva que caíam em sua face. Sem se incomodar de estar encharcada, cega a tudo a sua volta só conseguia pensar em cada lembrança junto a ele passando por aquelas ruelas. E cada memória lhe doía o peito. Sentia como se agulhas fossem enfiadas em sua cabeça. Segurando firme o colar que ele lhe dera, ameaçou jogá-lo, mas por fim guardou-o, como em todas as outras vezes. Ainda faltava um lugar para ir.
Voltou a casa, juntou seus pertences e deu adeus aos dias de felicidade que vivera ali partindo sem olhar para trás. Não derramaria mais lágrimas, devia ao menos isso a ele, pensou, já que não era forte o suficiente para dizer adeus sorrindo em frente ao seu túmulo. Quando esse dia chegasse ela voltaria, até lá seguiria sem rumo. Procurando o fogo que se apagara em sua vida.

Uma estranha neblina descia sobre a montanha trazendo um vento gélido. Arrastando-se, a névoa parecia ter vida própria e engolia tudo. Não se via nada a frente. Sob essas circunstâncias o homem guiava a carruagem e gritava para outro.
– Devemos parar, estou congelando e não vejo nada. Tenha piedade do seu amigo!
– Ora meu caro. É apenas uma neblina. – retorquia o outro de dentro da carruagem, rindo. – Não foi o mesmo que me disseste há alguns minutos atrás?! Paremos.
– Sim, sim.
O homem parou a carruagem no meio da estrada e abrigou-se nela. Suas mãos e pés tremiam com o frio. E tinha as orelhas e o nariz vermelhos.
– Não é época para tal. O tempo está louco.
– O tempo está louco. Mas isso não me parece ser algo natural.
– Será bruxaria? Pelos deuses. Quero chegar o mais depressa possível no palácio. Nunca saio em uma viagem sem que aconteça algo de estranho ou inesperado. Odeio viagens.
– Você odeia o desconforto e quantas vezes já saístes a não ser para embaixadas ou bailes. Certamente poucas.
– Todas elas com você.
– Então amigo, o problema é comigo. Eu atraio essas coisas. – e gargalharam juntos mesmo com a tensão arrastando-se.
Fora, estava muito silencioso, calmo demais. Nem pássaros voavam no céu. Os animais pareciam ter se escondido. E a neblina persistia. Na estrada, um viajante cansado cavalgava lentamente, coberto por uma capa. Seus olhos estavam sem vida. O frio parecia não lhe atingir ou não importava. Nada importava.
O viajante passou pela carruagem e os homens o viram da janela e apenas isso, um vagante em sua jornada. Não iriam interferir.

 

Deixe um comentário